Um grave acidente durante um suposto racha entre um Citroën C3 e um Hyundai i30 no Bairro Belvedere, em BH, no mês passado, trouxe de volta a polêmica dos pegas de rua na cidade.
Na rotatória do bairro, o Citroën bateu em um poste logo após atropelar um homem que pilotava uma Honda CG Titan. A esposa do motociclista, moradora do Belvedere, disse que em todas as noites há disputas entre carros nas ruas do bairro e que o acidente com seu marido ocorreu em horário em que há muitas crianças na praça próxima e pessoas praticando caminhada e cooper.
A prática, embora ilegal, ainda é apreciada por alguns entusiastas de carros velozes. A solução para os corredores amadores não é parar, mas sim aderir aos chamados 'Track Days', que ocorrem em datas específicas em autódromos legalizados pelo Brasil. Este tipo de evento tem um forte apelo de conscientização para quem curte velocidade, pois serve como uma válvula de escape para quem, eventualmente, viria a acelerar demais nas ruas e estradas, colocando em risco a integridade de outras pessoas.
O próximo Track Day será realizado no autódromo Mega Space, em Santa Luzia, na Grande BH, no dia 24 de maio. Em apenas dois dias, as 36 vagas disponíveis se esgotaram. A primeira inscrição é do estudante Matheus de Castro, de 20 anos. Apaixonado por carros, ele sempre correu em ruas e estradas sem medo das consequências desta ilegalidade, mas desistiu da prática após capotar o carro durante um racha em uma estrada próxima a Juiz de Fora. “Só quando eu sofri esse acidente que eu percebi que não vale a pena correr na rua, é muito risco que você corre”, disse o jovem que não desistiu da velocidade, mas agora só acelera com vontade em pistas apropriadas, como a do Mega Space.
O piloto de Drift João Henrique Ferraz também viu no Track Day uma oportunidade de colocar suas habilidades em prática de forma segura. Ele sempre esbanja adrenalina nas manobras nas pistas fechadas, mas nem sempre foi assim. Com um Nissan 350Z com motor alterado para 400 cv, o piloto de 20 anos se divertia nas ruas e treinava as manobras em praças e rotatórias de Nova Lima. “Hoje tenho noção que praticar na rua é muita irresponsabilidade, coloca sua vida e de outras pessoas em risco e como busco mostrar o drift como algo profissional e legal, defendo as manobras em pistas fechadas e apropriadas”, comentou o piloto.
As autoridades enxergam positivamente ações como o Track Day. "Toda iniciativa legal que venha contribuir para a diminuição de ações ilícitas e de acidentes na estradas é válida e a PRF (Polícia Rodoviária Federal) dá total apoio para essa válvula de escape para os corredores amadores", explica o inspetor da PRF, Aristides Júnior.
Esse é o quarto Track Day em BH, que ocorre em média de seis em seis meses. A inscrição de R$ 195 dá direito a quatro tomadas de 15 minutos cada uma. Os participantes podem levar convidados para asssistirem. “Qualquer um pode participar, mas os carros são divididos em cinco categorias”, informa um dos organizadores do evento, Rodrigo Dutra. “Temos inscrição de todos os tipos de carros, desde Fiat Uno 1.0 e Palio 1.6 até carros bem mais potentes como BMW M3, Mitsubishi Lancer EVO e Subaru WRX STI”, completa.
Além dos carros rodarem isolados de outros veículos e de pedestres, a pista foi projetada especialmente para a prática de atividades em alta velocidade e o local conta ainda com ambulância e médicos de plantão durante todo o evento.
Qualquer um pode alugar um autódromo e organizar um Track Day. Nestes eventos, todos os pilotos são obrigados a usar capacetes e a organização deve contratar uma ambulância e equipe de socorro médico. Há ainda a possibilidade de alugar a pista individualmente por R$ 400 a hora no Mega Space.