A partir de 2 de março, a Receita Federal começará a receber as declarações dos contribuintes que tiveram renda tributável maior que R$ 28.559,70. É preciso reunir toda a documentação necessária e ficar atento aos detalhes para não cair na malha fina. E quem vendeu o carro no ano passado e teve ganho de capital pela valorização do bem, terá que pagar imposto sobre o valor acima do declarado na compra. Vale lembrar que os veículos com valor declarado de até R$ 35 mil são isentos.
Mais uma vez, o Brasil está vivendo o fenômeno da valorização do carro usado, que foi comum até o início dos anos 1990, quando a inflação alcançou índices absurdos. Agora, o fenômeno volta a acontecer, mas por motivos diferentes. De acordo com Felipe Pessoa, diretor da rede Carbig.com, empresa especializada no segmento de veículos usados, depois da pandemia da COVID-19 vários fatores influenciaram para a alta nos preços dos carros usados. O principal foi a queda na produção de veículos, com paralisação das linhas de montagem por falta de componentes, principalmente semicondutores.
Mas Felipe lembra que, a partir do último trimestre de 2020, o consumo começou a dar sinais de retorno, porém, a indústria automotiva não conseguia atender a demanda. “Muitas pessoas deixaram de viajar de avião e ficaram com medo de usar transporte público, como carros de aplicativo, táxi e ônibus. Além disso, muitos que tinham dois carros na garagem, optaram por vender um, já que quase não saíam de casa, e isso, aos poucos, contribuiu para aumentar os estoques das revendas de usados”, relata Felipe.
Se não tinha carro zero para vender, com filas de espera de até seis meses para alguns modelos, a solução encontrada por muitos consumidores foi investir no veículo usado, um seminovo ou um mais rodado com preço mais em conta. Só que aí veio a surpresa: com o aumento da procura, o preço do usado subiu assustadoramente, deixando uma boa parcela da população brasileira sem condições de adquirir um carro em melhores condições.
O diretor da Carbig revela que o aumento nos preços dos carros usados foi de 30% a 40%, dependendo do modelo e do ano de fabricação. E ele acredita que ainda tem espaço para subir mais, já que não existe previsão para a normalização da produção de veículos zero. “Apesar disso, o carro usado continua sendo um bom negócio, já que o zero está caro, principalmente para as classes C e D”, afirma Felipe.
Já o gerente-geral de vendas da Carbig, Haroldo Melo, lembra que 30% dos carros vendidos no Brasil são financiados, com taxas que vão de 1,29% a 1,59% para os seminovos e cerca de 2% para os veículos mais velhos. Ele acredita que com a crise na produção do zero, o usado venderá cada vez mais, porém, com aumento nos preços. “Temos percebido um aumento de 0,5% a 1% ao mês nos preços dos usados”, revela Haroldo.
Outro detalhe observado pelos executivos da Carbig é que, com a queda na produção das montadoras, o mercado de seminovos terá uma baixa significativa nos estoques dos modelos 2020/2021. Eles revelam que no fim de 2020, a Carbig tinha um estoque de 380 carros usados para venda, menos da metade do volume normal. Atualmente, a empresa está com mil carros distribuídos em seus pátios. Felipe Pessoa acredita que só existe um jeito dos preços dos usados voltarem a cair: “Só se a indústria automotiva voltar a vender carros de entrada com preços mais baixos”.
A Carbig.com é um bom exemplo de como o carro usado vem se transformando em um bom negócio. A empresa foi inaugurada em 2019, como resultado da união dos setores de veículos usados de todas as concessionárias do grupo Carbel, de Belo Horizonte. Atualmente, a Carbig tem 13 lojas na Grande BH, mas a intenção é chegar a 16 ainda neste ano. Com foco principal nos seminovos, trabalham com veículos de todas as marcas, com quilometragem média de 50 mil. O cliente que compra usado na Carbig leva um laudo cautelar, atestado de quilometragem e ainda tem direito a fazer um teste drive antes de fechar o negócio. “Buscamos trabalhar com transparência, oferecendo segurança e variedade ao consumidor”, afirma Felipe.
CUIDADO COM O LEÃO
E para quem vendeu carro em 2021 e teve ganho de capital, é preciso ficar atento na hora de fazer a declaração do Imposto de Renda. O contador Edvar Dias Campos, presidente do Conselho Empresarial das Micro e Pequenas Empresas, entidade ligada à Associação Comercial de Minas Gerais, revela que carros com valor declarado de até R$ 35 mil estão isentos de pagar IR.
Ele explica que se em 2019 o contribuinte declarou o carro por R$ 80 mil e em 2021 vendeu pelo mesmo valor, houve valorização, mas não teve ganho de capital, portanto, o proprietário fica isento de pagar imposto. Mas se ele vendeu o carro no ano passado por R$ 95 mil, terá que pagar 15% de IR sobre os R$ 15 mil da diferença, que representa ganho de capital. “É importante ressaltar que o imposto incidirá sobre a diferença do valor anteriormente declarado na compra do carro e o valor da venda do mesmo”, alerta Edvar.
Ou seja, se você ficou feliz com a valorização do seu carro na hora da venda em 2021, lembre-se que o leão vai querer a parte dele na declaração do Imposto de Renda 2022. E se esse detalhe não for observado ao fazer a declaração, o contribuinte certamente terá problemas com a Receita Federal.