A passos largos, o jeitinho chinês vai se alastrando pelo mundo. O mercado distante, que a economia globalizada fez aproximar e que já ameaça como futura grande potência, ainda é um mistério, se analisado de maneira profunda. Superficialmente, mantém a imagem de mão de obra barata (quase escrava) e, consequentemente, de produtos baratos, que surgiram como cópias e hoje começam a tomar suas próprias formas, inclusive no segmento automotivo. Produtos que são decodificados na mente do brasileiro de maneiras bem distintas.
Preconceito ou conceito definido?
O caderno Vrum foi às ruas e fez uma enquete sobre o carro chinês. Para a defesa de cada ponto de vista, não faltaram argumentos, que recorreram até às origens históricas
A expectativa era grande para o Salão Internacional do Automóvel de São Paulo de 2006, quando era esperada a apresentação de automóveis de pelo menos três marcas chinesas. Mas a presença foi marcada apenas por um tímido estande da marca Chana, atualmente Changan. Desde então muita coisa mudou no cenário automotivo brasileiro, que hoje já reúne cerca de 10 marcas chinesas. Apesar do tempo relativamente considerável – quase seis anos –, foi a partir do ano passado, com a propagandeada entrada da JAC, aliada ao crescimento da Chery, que a ideia de comprar um veículo chinês passou a povoar a mente dos brasileiros com mais intensidade. Mas o desconhecimento ainda é grande, e se por um lado os modelos chineses atraem pelo preço, por outro espantam pelo temor da qualidade, segurança e outros problemas típicos de importados como custo de manutenção e dificuldade na reposição de peças. Para saber o que passa na cabeça dos consumidores, o caderno Vrum entrevistou cerca de 70 motoristas em pontos diferentes da cidade de Belo Horizonte. A enquete foi respaldada pelo portal Vrum, que também colheu a opinião de internautas durante quatro dias, obtendo 2.478 votos e idêntico resultado final, com 61% das pessoas apontando o “não”.
“Não, não compraria, pois não acredito na competência deles. São muito novos no nosso mercado”, afirmou à reportagem a empresária Yara Guimarães de Magalhães, com um pensamento que traduziu o voto da maioria. Como ela, grande parte dos motoristas entrevistados disse que prefere não arriscar seja por não confiar na qualidade dos produtos chineses ou por temer o custo de manutenção e/ou falta de peças ou até por razões históricas e nacionalistas. Alguns preferiram não opinar por não conhecer os modelos (ou até confundi-los com japoneses e coreanos). Nenhum entrevistado, no entanto, citou uma das principais incógnitas que permeia o cenário chinês: a segurança, já que grande parte dos modelos ou não passou pelo crash test, ou teste de impacto ou, se passou, não obteve bom resultado.
Já a justificativa de compra é aparentemente tão óbvia que dispensa comentários. “Compraria, sim. Com certeza. São muito mais baratos e completos”, garantiu o motorista profissional Edu Dias de Souza. Mesmo assim, há que vá mais longe. “Sim, porque o carro chinês é igual a qualquer outro. Já tivemos até Fiat 147 nesse país... Por que não, o chinês?”, comparou o advogado Carlos Alberto Pequeno.