A isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) deixou de vigorar em abril para os automóveis 1.0, assim como a redução para os modelos com motores até 2.0, mas a Volkswagen está anunciando que paga a isenção do IPI para o Gol, o carro que é o mais vendido do país há 18 anos. O motivo é a pressão provocada pelo Novo Uno que, desde o lançamento em abril, tem vendas consistentes e ameaça roubar o trono. Para alcançar o objetivo, a Fiat se vale de uma tática que já é usada por outros fabricantes: agregar os emplacamentos de modelos completamente diferentes, mas que tem o mesmo registro no Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), apesar de terem nomes comerciais diferentes. É o caso do chamado Novo Uno e do antigo Mille, lançado pela fábrica de Betim em 1984.
No primeiro mês do ano, o Gol vendeu 15.893 unidades, ante 9.923 do Uno, uma diferença de 5.970. Em junho, quando o modelo da Fiat já tinha o reforço do Novo Uno, o quadro começou a mudar. O Gol vendeu 22.177 unidades, frente 19.130 do Uno, uma diferença de 3.047 unidades, número que diminuiu mais ainda no último mês, quando o Gol emplacou 25.423 unidades e o Uno 23.163 ( 2.260). De toda maneira, mesmo com o crescimento, a diferença entre os dois ainda é grande e é praticamente impossível que os italianos de Betim superem os alemães do ABC paulista no ano (no acumulado de 2010, o Gol vendeu 168.427, ante 115.992 do Uno).
Não só o Novo Uno se vale dessa tática. O Chevrolet Corsa Sedã e Classic, que têm o mesmo tipo de carroceria mas são modelos diferentes, também agregam resultados no ranking de emplacamentos. O mesmo acontece com o VW Fox e CrossFox e até com o líder Gol, que engloba as duas diferentes gerações ? as chamadas G4 e mais recente G5 ? como um único carro.
A promoção para o G4, feita pela VW, anuncia preço a vista a partir de R$ 23.990, considerando o desconto do IPI dado pela montadora, e mira o Mille, a versão antiga do Uno. Já para o Gol G5 o preço a vista anunciado é de R$ 28.780 e quer acertar em cheio o Novo Uno, que começa a ser vendido na mesma faixa. Porém, na concessionária Volkswagen Catalão, a vendedora explica que existem dois modelos no estoque, mas a princípio ela diz que não é possível vender a vista com o desconto anunciado. Após ser questionada, pois no anúncio, em letras miúdas constava a opção, a vendedora diz que é possível, mas que o modelo sem opcional, como foi anunciado não tem estoque. ?Só com limpador e desembaçador?, afirma. Nessa condição, o preço sobe para R$ 29,5 mil.
?O mercado brasileiro está muito competitivo e a Fiat tem procurado ter as melhores ofertas, tanto em produtos como em preços, mas sem entrar em guerra?, afirma o diretor comercial da Fiat, Lélio Ramos. Na visão da fábrica de Betim, o que se busca é uma liderança de resultados. ?Liderança de mercado é parte dessa estratégia e não é feita somente com um produto, mas com toda a gama?, afirma Ramos. Porém, encontrar um modelo do Novo Uno para pronta-entrega não é tarefa simples. Em consulta a revendas capital, é possível encontrar apenas determinados tipos de versões e cores. Mas, dependendo da configuração, a espera é de 30 dias. No caso do Way, pode chegar até 60 dias.
Na concessionária Carbel não é possível comprar o carro sem opcionais e com o preço atrativo anunciado. O vendedor explica que pode vender um Gol 1.0, equipado com o pacote de acabamento trend, vidros elétricos nas portas dianteiras e direção com assistência hidráulica, por R$ 30.947. O preço cheio do carro, sem o desconto de 3% do IPI anunciado e mais um bônus dado pela revenda, é de R$ 34.070. No caso do Gol 1.6, o desconto do IPI é de 5%.Na guerra entre os líderes, o vendedor da Carbel, ao saber do suposto interesse por um veículo da concorrência, não titubeia: ?É carro de mulher. Não atrapalha os negócios do Gol, pois quem procura esse Novo Uno é um público totalmente diferente?, afirma.