O Logus, desenvolvido pela Autolatina, que uniu Ford e Volkswagen entre 1º de julho de 1987 e 1º de janeiro de 1996, acaba de completar 30 anos. Vale lembrar que é a partir dessa idade que os carros tornam-se antigos perante a legislação brasileira. O fabricante aproveitou para divulgar um release sobre a história do modelo, mas a verdade é que ele não foi bem-sucedido como o material afirma.
Na verdade, nem o Logus nem qualquer outro modelo criado pela Autolatina fez sucesso. Esses produtos eram mistos: tinham plataforma de uma marca, mas ostentavam o logotipo da outra. Essa prática visava reduzir custos em um momento de crise do mercado sul-americano, mas acabou gerando automóveis em personalidade, ou então destoantes do perfil dos consumidores da Ford ou da Volkswagen.
É justamente esse o caso do Logus e também do "irmão" dele, o Pointer: ambos utilizavam a plataforma do Escort e, consequentemente, tinham muito mais em comum com ele do que com modelos da gama Volkswagen. Até a fábrica que os produzia era a da Ford, em São Bernardo do Campo (SP).
No fim das contas, os carros-chefes das duas empresas continuaram sendo os mesmos de antes da associação. A Volkswagen liderava o mercado graças ao bom desempenho comercial de Gol e Parati, enquanto o campeão de vendas da Ford permanecia sendo o Escort. Tais modelos sobreviveram à Autolatina, que desapareceu junto com todas as próprias crias.
Para relembrar como a história de fato aconteceu, o VRUM enumerou 5 carros criados pela Autolatina. Nenhum deles se destacou no mercado, tampouco obteve número expressivos de vendas. Todos saíram de linha rapidamente, o que lhes rendeu a pecha de "micos". Hoje, já antigos (ou quase), acabam sendo testemunhas daquela associação malsucedida, mas memorável, entre Ford e Volkswagen. Confira o listão!
1- Volkswagen Logus
O primeiro da relação é justamente o Volkswagen Logus. O sedan de duas portas estreou em fevereiro de 1993 nas versões CL 1.6, CL 1.8, GL 1.8 e GLS 1.8. O ponto alto do modelo era o estilo, que parecia bem mais avançado que o dos demais veículos Volkswagen da época. Além disso, tinha ergonomia acertada, com boa posição ao volante e painel de instrumentos de fácil acesso aos comandos.
As versões mais caras do Logus traziam equipamentos então sofisticados, como alarme acionado na fechadura, vidros elétricos “one touch” com sistema antiesmagamento, toca-fitas digital com equalizador e ar-condicionado. Na linha 1994, vieram a versão GLS 2.0 e a série especial Wolfsburg Edition, essa última a mais requintada da história do modelo.
Porém, o caso é que o Logus tinha problemas. Para começar, ainda chegou ao mercado com carburador, quando os carros médios nacionais já estavam migrando para a injeção eletrônica. Já o câmbio recebeu críticas pelas relações de marchas muito curtas.
Mas o pior problema era a baixa rigidez torcional. Houve relatos de veículos cujas carrocerias torciam tanto que o vidro traseiro chegava a se soltar quando os proprietários erguiam uma das rodas com um macaco ou subiram diagonalmente em um meio-fio. O Logus não chegou a completar quatro anos de vida: saiu de linha em dezembro de 1996, com um total razoável de 125.332 unidades fabricadas.
2- Volkswagen Pointer
Eis o "irmão" de projeto do Logus. Em relação ao design, o Pointer, com uma arrojada carroceria hatch de quatro portas, era ainda mais bonito que o sedan do qual derivava. Isso, graças às linhas harmoniosas e à traseira em queda suave. Os dois veículos compartilhavam, além da mecânica, toda a seção dianteira, o painel e, claro, a plataforma com o Ford Escort.
Isso significa que ambos também tinham problemas semelhantes, como as já citadas relações de marchas e os motores alimentados por carburador. Para complicar, a partir de 1994, o Pointer passou a sofrer a concorrência interna do Golf, um hatch médio global que chegava ao país importado pela própria Volkswagen.
O ápice do Pointer era a versão esportiva GTi, disponível desde o lançamento. Mas nem ela conseguiu alterar o destino do modelo, que teve trajetória ainda mais curta que a do Logus e durou exatos três anos, de dezembro de 1993 até dezembro de 1996. O desempenho comercial também foi inferior, e muito, ao do "irmão": durante esse período, apenas cerca de 37 mil veículos ganharam as ruas.
3- Volkswagen Apollo
O primeiro dos modelos híbridos da Autolatina foi o Volkswagen Apollo. Tratava-se, literalmente, de um clone do Ford Verona, que por sua vez era um sedan de duas portas desenvolvido a partir do Escort. As diferenças entre os dois eram mínimas: resumiam-se à grade dianteira e ao posicionamento do logotipo do fabricante.
Outras exclusividades eram um friso no capô, lanternas fumê, molduras na cor cinza nas janelas e um discreto spoiler na tampa do porta-malas. No interior, havia painel e volante de estilo próprio. Na parte mecânica, mais semelhanças: o Apollo vinha com motor Volkswagen 1.8 em toda gama, enquanto o Verona oferecia também uma unidade 1.6 Ford na versão de entrada.
Para diferenciar a dirigibilidade dos dois modelos, o Apollo ganhou um câmbio com relações mais curtas e um acerto de suspensão mais firme. Mas era muito pouco: a própria rede de concessionários Volkswagen relatava dificuldades em vender o modelo, que parecia um E.T. nos showrooms. Natural, pois ele tinha DNA Ford, já que era, grosso modo, um Verona.
O Apollo permaneceu no mercado por menos de três anos, entre 1990 e 1992. Durante esse período, a Volkswagen produziu apenas 53.130 exemplares do modelo. Menos da metade do Verona de primeira geração, que apesar de não ter sido exatamente um sucesso, emplacou cerca de 115 mil veículos de 1989 a 1992, número que lhe garantiu uma segunda safra, em 1993.
O fracasso do Apollo se deveu justamente à falta de personalidade. Os consumidores tradicionais da Volkswagen não se identificavam com ele, enquanto os menos fidelizados preferiam ficar com o Verona, que custava 20% a menos. O sucessor dele foi justamente o já citado Logus, que, ao menos no design, se distanciava mais da gama Escort.
4- Ford Versailles
Assim como o Apollo era um clone do Verona, o Versailles era um irmão gêmeo do Santana. Os dois compartilhavam não só a plataforma, como também quase todas as chapas da carroceria. As diferenças ficavam por conta do formato de lanternas, faróis e grade dianteira. A terceira janela lateral do sedan da Ford ainda tinha um desenho um pouco diferente em relação ao da Volkswagen.
Verdade seja dita, muitos consideram que a cópia acabou saindo até melhor que o modelo original. Isso porque o Versailles tinha acabamento interno mais caprichado que o do Santana, com forrações de melhor qualidade nos bancos. No mais, havia ainda painel e volante com desenho próprio.
Seja como for, o fato é que as vendas do Versailles sempre foram bem menores que as do Santana. Afinal, na verdade, o modelo era um Volkswagen: não tinha o rodar macio que os clientes da Ford esperavam. Paralelamente, o irmão gêmeo, com visual mais agressivo, agradava ao público que buscava mais esportividade. Vale destacar que, mecanicamente, ambos eram idênticos.
O destino do Ford Versailles acabou sendo o mesmo dos demais carros criados pela Autolatina: saiu de linha em 1996, quando a joint-venture chegou ao fim. Foram aproximadamente cinco anos de mercado desde o lançamento, em julho de 1991. Durante todo esse período, o sedan ficou atrás, em vendas, não apenas do Volkswagen Santana, mas também dos concorrentes Chevrolet Monza e Fiat Tempra.
5- Ford Royale
Em linhas gerais, tudo o que foi dito sobre o Versailles vale também para a Royale. Enquanto o sedan não passava de um Santana, a station wagon da gama era uma Quantum igualmente travestida. Havia, porém, uma diferença crucial: a perua da Ford vinha unicamente com carroceria de duas portas, justamente para se diferenciar da "irmã" da Volkswagen, que sempre teve quatro portas.
Outro objetivo era aproximar a Royale da antecessora Belina, que também tinha duas portas. Entretanto, essa característica acabou sendo o calcanhar de Aquiles da perua da Ford. Isso porque, na década de 1990, os automóveis de quatro portas, anteriormente rejeitados, ganharam de vez a preferência do consumidor brasileiro.
Em 1995, a Royale chegou a receber uma carroceria de quatro portas (a mesma da Quantum), junto com uma reestilização que envolveu também o Versailles. Mas isso fez pouca diferença: a perua teve trajetória mais curta que a do sedan, de 1992 a 1996, e uma participação de marcado praticamente pífia.
Já dirigimos uma Volkswagen Santana Quantum, perua que originou a Ford Royale: assista ao vídeo!
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