Se as montadoras de veículos não estivessem em férias coletivas, teriam produzido nos dias 31 de dezembro e 1º de janeiro exatamente os mesmos carros, porém, com uma diferença significativa: o ano de produção. Os fabricados até 31 de dezembro levam a denominação 06/07 e são vulgarmente chamados de duas cabeças, que são, respectivamente, o ano de produção e o modelo do automóvel. A partir de 1º de janeiro, ano e modelo se igualam e a cabeça única ganha mais valor no comércio de usados, o que pode indicar revenda mais lucrativa. Durante muitos anos, essa foi a verdade no mercado de automóveis. Atualmente, porém, isso já não faz tanta diferença e revendedores alertam para o fato de que um bom desconto no veículo duas cabeças pode ser mais vantajoso do que a preocupação com o valor de revenda.
A primeira coisa a pensar é no tempo que se pretende ficar com o carro, antes de vendê-lo. “Se você pretende comprar o carro zero e vendê-lo um ano depois, a diferença de ano de produção pode ser significativa na hora de revender. Mas se você vai ficar com o carro por cerca de três anos, que é o mais habitual, não é representativa”, afirma o gerente de vendas da concessionária Ford Pisa, Antônio Longuinho. “Com um ano de uso, os carros estão em situação parecida, no que diz respeito ao estado de conservação. Então o ano de produção pode alterar. Mas, por exemplo, se você está vendendo um carro 02/03 em excelente estado de conservação e seu vizinho um 03/03 menos conservado. Vou pagar mais pelo seu”, acrescenta Liliana Diniz, da agência Garage Amazonas.
Ela observa que, atualmente, o carro é avaliado, levando-se em conta o modelo e não o ano, sendo fator decisivo é o estado de conservação. Assim, se o tempo de uso for inferior a um ano, o automóvel duas cabeças volta a valer muito: “em julho, devo pagar a mesma coisa por um carro 06/07 e um 07/07”, complementa o gerente de vendas da concessionária Chevrolet LiderBH, Dálcio Amorim Carneiro.
Desconto
Outro ponto importante a ser considerado na hora da compra é o desconto oferecido nos modelos de duas cabeças. De acordo com os revendedores, se chegar a 5% do valor do carro (em comparação com o preço pedido para o 07/07), já vale a pena optar pelo modelo de ano anterior. Mas, “se a diferença for mínima, claro que é melhor ficar com o 07/07”, completa Liliana.
“Se o desconto valer a pena, é melhor economizar agora porque, depois, o que vai contar é o estado de conservação”, continua o vendedor Ricardo Machado, da agência Informauto. Ele alerta porém para outros cuidados: muitas vezes, a diferença de preço não chega a ser propriamente em virtude de um desconto nos veículos de duas cabeças, mas de aumento de preço nos da nova linha. Além disso, devido às férias coletivas, que vão de meados de dezembro ao início de janeiro, alguns modelos podem faltar no mercado, ocasionando aumento em vez de desconto. Continua valendo, portanto, a velha máxima: “Em janeiro, aconselho o consumidor a pesquisar e buscar o melhor preço”, garante Dálcio Amorim.
Antecipado
A exploração do duas cabeças vem superando a simples mudança de ano ou modelo. Há tempos, já vem sendo comum a troca de linha no meio do ano, passando-se todo o segundo semestre com a comercialização de automóveis duas cabeças. Com o objetivo de valorizar os veículos, a cada lançamento, ainda que no início do ano, também vem virando hábito das montadoras batizar os automóveis com modelo do ano seguinte.